terça-feira, 27 de abril de 2010

Por um mundo mais igual

Cenário: Parada do Orgulho LGBT de Santo André. Domingão, sol, cor e alegria para falar de coisa séria. O resultado, modesto, está aqui pra quem quiser ler.


Por um mundo mais igual

Quatro vidas, quatro histórias e uma só palavra: preconceito

Foto: Luciano Vicioni


Preconceito: atitude, sentimento ou parecer insensato, de natureza hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio; intolerância Fonte: Dicionário Houaiss

Nash, Lorrane, Mandy e Mari. Quatro vidas, quatro histórias, todas unidas pela mesma palavra: preconceito. Velado ou escancarado, nas ruas ou em casa, desde cedo tiveram de aprender a lidar com insultos e cara feia apenas por ter uma opção diferente da considerada “normal”. Nash e Lorrane são amigos, gays, e gostam de se vestir como mulheres. Mandy e Mari, lésbicas, namoram há quatro meses. Os quatro ajudaram a colorir a 6ª Parada do Orgulho LGBT de Santo André no último domingo (25/04).

Nash Enjoy, 22 anos, preparou-se especialmente para a ocasião. Veste blusa listrada de vermelho e preto e calça jeans colada. Nos pés, sandálias femininas. No rosto, maquiagem. O cabelo liso é cheio de mechas loiras. Nash conheceu o preconceito nas ruas.

- Descobri que era gay com 12 anos, e desde então gosto de me vestir como mulher. Isso atrai comentários desagradáveis. Me chamam de viadinho pra baixo, não gosto nem de lembrar. Se ficar pensando nisso, não vivo.

Amiga de Nash, Lorrane Lapice, 17 anos, também está vestida para a Parada: os cabelos pretos com mechas vermelhas meticulosamente escovados, o capricho na maquiagem, com batom lilás e olhos bem delineados, a blusinha estampada com shortinho jeans curto. Aprendo com ela que, quando estão montados, ou seja, vestidos com roupas femininas, os travestis gostam de ser tratados por artigos femininos. O preconceito que Lorrane experimenta acontece dentro do grupo LGBT.

- Muitos gays não gostam de namorar com travestis, porque as pessoas confundem com prostituição. Nem toda travesti é prostituta.

Lorrane sabe o que fala: namorou durante um mês com um rapaz, que a deixou por causa de sua opção em se vestir como mulher.

- Azar o dele. Até minha mãe e minha irmã me aceitam como sou e me ajudam com a maquiagem e as bijus. Por que vou ficar com alguém que não me quer assim?

Em família

Para Mari, 19 anos, as coisas não foram tão fáceis dentro de casa. Para ela, o preconceito começa em família. A jovem de unhas compridas pintadas de verde e cabelos coloridos de vermelho conheceu Mandy, 21 anos, quando ambas eram crianças. Após dez anos sem contato, voltaram a se ver no casamento de uma prima de Mari. Ambas já haviam experimentado relacionamentos com pessoas do mesmo sexo e resolveram dar uma chance ao acaso. A chance vem dando certo há quatro meses, mas apenas a mãe de Mari sabe do relacionamento.

- Ela não aceita muito bem, e nem penso em contar para o meu pai. Seria difícil para ele.

A família de Mandy aceita o namoro e é na casa dela que ambas se refugiam. A mãe de Mandy, porém, também teve dificuldades para lidar com a notícia. Foi ela quem tocou no assunto quando a jovem completou 18 anos.

- Filha, você é bonita, estuda, trabalha, mas só ouve Ana Carolina e só liga mulher aqui atrás de você. Você é lésbica?

- Você quer saber a verdade?

- Quero.

- Sou.

- Então ganhei mais um filho homem.

Mandy balança a cabeça e dá risada ao relembrar o diálogo com a mãe. Com dois irmãos em casa, tem na ponta da língua a resposta que deu à progenitora:

- Continuo sendo mulher. Não mudei o que tenho no meio das pernas.

É assim. O preconceito se manifesta até mesmo nos casos em que parece haver certo entendimento por parte do outro. Compreender e aceitar a opção sexual das pessoas é um desafio social, mas é essencial para garantir o que é delas por direito: a opção de ser feliz independentemente de sexo.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Sushi

Esse texto não se trata de uma reportagem, mas de um exercício que fizemos durante a aula de Escrita Total na ABJL, ministrada pelo professor Edvaldo Pereira Lima. Super recomendo o método, que mistura técnicas de escrita com as pesquisas mais avançadas sobre neurologia e comportamento humano.

Para se ter uma ideia (sem acento), esse texto foi escrito em 12 minutos, durante os quais eu não podia parar de escrever por nem um segundo. Antes de produzi-lo, fiz um mapa mental com a palavra sushi ao centro e com outras palavras que esta primeira me lembrava. Então, quando escrevi o texto, a coisa fluiu de tal forma que saiu isso aí, que vocês vão ler abaixo praticamente da forma como eu escrevi, corrigindo apenas eventuais erros de português, porque não podemos nos preocupar com isso enquanto praticamos a escrita rápida (nome desse método).

Aí vai:

Sushi

Por Camila Galvez


Foto: Camila Galvez

Ele gostava de sushi, e era quase um ritual obsessivo. Toda sexta-feira à noite, saia da aula e rumava para o restaurante pequenino e quase sempre vazio naquele horário. Observava o sushiman preparar o rolinho, primeiro a alga, depois o arroz e por fim o peixe. Sentia cheiro de areia e de mar e de infinito enquanto observava o colorido do peixe se juntar ao branco do arroz e o escuro da alga.

Não gostava de molhos nem de nada que atrapalhasse o sabor. Achava um crime encharcarem o sushi com shoyu. Como ficava a experiência do sabor inusitado se se quebrasse o encanto molhando o arroz? Não, não era japonês, tampouco do Oriente, mas tinha certeza que em uma de suas muitas vidas havia vivido por lá.

Ele julgava gostar tanto e apreciar tanto aquela arte milenar simplesmente porque ela o lembrava da força do mar. Imperioso, poderoso, ruidoso, regido pelas mares. Mesmo diante de tanta força e poder, sabia ser simples ao abrigar a vida do peixe que serviria depois de alimento par ao homem. O mar, que era tão grande, ficava pequeno ali, naquele diminuto rolinho de sushi. Mas para ele era exatamente aí que morava a graça de se alimentar dessa forma e, de alguma maneira, sentir-se conectado com o mar.

Sabia que era uma espécie de amor, um estranho amor que, como uma donzela das antigas, fazia com que ele retornasse todas as sextas-feiras para sentir o som e ouvir o gosto do mar nos sushis. Era dessa forma única que conseguia sentir-se conectado consigo mesmo. Ia sempre só, para observar rodas de amigos que esporadicamente apareciam por lá e reclamavam da demora. Ele entendia. Não tinha pressa. Sabia que o preparo de um alimento que traz tanto simbolismo e tanto movimento cultural tendia mesmo a demorar. Não se importava. Esse era o seu ritual. Olhar o colorido, sentir o sabor, cheirar o mar, tocar os palitinhos que, mesmo depois de tanto tempo, ainda sentia dificuldades em segurar.

Quando provava um novo sushi, invariavelmente sentia-se naquele mesmo mar. Não era exatamente o sabor o responsável pela sensação, ele sabia, mas sim o simbolismo implícito naquele simples ato de abrir a boca e degustar. Todos os seus sentidos eram avivados pelo alimento, mas era o cheiro de mar que se fazia mais presente, mais intenso, mais forte, fazendo com que se lembrasse de tudo o que já vivera nas poucas oportunidades que tivera de estar diante da imponência do mar, de suas ondas quebrando e fazendo espuma e arrastando tudo o que estivesse pelo caminho em noite de tempestade.

O sushi era a prova de que algo continuava vivo dentro dele. O colorido era a prova de que as coisas voltariam a fazer sentido. O sabor era o gosto que ele gostaria de ter pela vida. Tudo ali, concentrado num pequeno rolinho que trazia consigo tantas lembranças, tantos sabores, tantas vidas.

Chamassem-no louco, ele não se importaria. Era movido pela água, pelo mar, pelo sushi das sextas-feiras. Por que só às sextas? Não sabia. O que podia afirmar com certeza é que o sushi tinha sabor de mar, amor e saudade. Não se culpava mais. Apenas apreciava. Era aquilo, na verdade, que o fazia continuar. E lembrar-se da forma como ela costumava sorrir quando, às sextas-feiras, ele aparecia feliz em sua casa e a convidava simplesmente para ver o mar pelos olhos de um sushi.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Entre o passado e o futuro

Nesta semana estive em uma aldeia indígena localizada em São Paulo, perto da divisa com São Bernardo. Uma balsa no Riacho Grande e uma hora e meia de estrada de terra depois, chegamos à aldeia do Krukutu, onde os índios me receberam muito tímidos e calados. Tive que usar uma certa psicologia para conseguir conversar com eles, além de ficar o tempo inteiro com uma sensação de que riam e falavam de mim quando começavam a conversar em guarani. Pode ser só aquela coisa de mania de perseguição, mas me senti muito assim. E isso foi bom, porque imagino que essa é exatamente a maneira como eles se sentem quando são obrigados a sair de suas aldeias e entrar no nosso mundo.

O que vi também foi que os índios de hoje em dia buscam retomar alguns aspectos de seus antepassados, mas também querem usufruir das tecnologias modernas. Vi na aldeia casa de pau-a-pique e chão de terra batida com geladeira, dois televisores, rádio, tudo dentro. É uma coisa estranha e, diante de meus olhos, só faz parecer que eles estão à procura de uma identidade que não existe mais. Não se sentem índios nem "homens brancos" e vagam no meio disso, entre o passado e o futuro que não sabem como será.

Abaixo está o resultado da visita. Críticas são bem vindas, porque não fiquei exatamente contente com esse texto. Mexi nele muitas e muitas e muitas vezes para deixá-lo o melhor possível, mas ainda assim acho que faltou algo. Digam-me vocês.

Entre o passado e o futuro

A aldeia Krukutu é um pedacinho de terra a uma hora e meia de São Bernardo onde índios até os sete anos falam guarani. Só guarani.

Por Camila Galvez


Foto: Amanda Perobelli

Ha'evite reju tekoa Krukutu py. Bem vindo à aldeia Krukutu. Espaço há uma hora e meia de São Bernardo no qual é possível ver crianças correndo de um lado para o outro e conversando exclusivamente em guarani. Não usam cocares, nem nada que as caracterize como índios, mas até os sete anos não conhecem outra língua que não a de seus antepassados.

Nesse pedaço de terra quase que intocado pela mão do homem vivem cerca de 250 pessoas, que tentam como podem conservar uma cultura que foi dizimada ao longo dos 510 anos que se passaram desde o descobrimento do Brasil. Descobrimento não, invasão, nas palavras de Luiz Karai, um dos coordenadores da aldeia. Naquela época, 1.500 etnias diferentes viviam em terras tupiniquins. Hoje, restaram pouco mais de 230. Os guarani da Krukutu são uma delas.

Iracema Martins da Silva está sentada ao lado de duas outras índias, Brisa da Manhã e Jandira Veríssimo, e observa as crianças da aldeia enquanto brincam. Iracema traz no nome a força da índia dos lábios de mel de José de Alencar, mas é de fala mansa e pouca. Veste-se como todos na aldeia: com roupas que podem ser encontradas em qualquer lojinha de bairro e chinelo havaiana – o dela, cor-de-rosa. Ali, quase todos usam as famosas sandálias de plástico que hoje viraram símbolo de status para alguns, mas que continuam sendo as boas e velhas – e baratas – havaianas de sempre. As mulheres são tímidas e conversam mais entre si que comigo. Falam guarani, e não entendo uma palavra sequer.

As crianças que Iracema, Brisa e Jandira observam brincar são miudinhas, magrinhas e de cabelos bem lisos, variando entre um tom de castanho escuro e um preto cor de breu. Dos 250 moradores da aldeia, ao menos 90 são crianças, de acordo com Karai, mas arrisco dizer que são mais. Ao menos são os gritinhos em guarani dos pequenos que se fazem mais presentes em todo o ambiente da aldeia.

Resolvo perguntar se uma das índias me levaria para conhecer a casa onde vive. Iracema se prontifica, não sem antes hesitar um pouco, soltar risadas tímidas e dizer algo em guarani às amigas. Mas a moça de cabelos muito pretos e olhos de jabuticaba se levanta e resolve me levar para conhecer o lugar onde mora.

Para chegar ao lugar no qual Iracema mora há uma pequena trilha cheia de pés sem banana, que leva até uma casa feita de pau-a-pique. A única coisa que delimita o pedaço de chão da família de Iracema é uma pequena cerca, que se estende apenas à frente da casa. Os fundos dão para a mata fechada depois do varal lotado de roupas coloridas, moletons e calças jeans, todos limpos graças à máquina de lavar.

A índia que me acompanha se detém por uns momentos para acariciar um pequeno sagui cinzento e inquieto encerrado dentro de uma gaiola de passarinho pendurada na porta da casa. Ao entrar na construção com chão de terra batida, não vejo nada muito diferente do que já vi em algumas favelas do ABCD: um quarto pequeno que abriga televisão, ventilador, uma cama de casal e três de solteiro para ser dividida entre os quatro filhos de Iracema, com idades entre três e nove anos. Na cozinha há também a geladeira, uma nova televisão e a máquina que lava a roupa pendurada no varal. Só fogão não tem.

- Por que não tem fogão, Iracema? Você gosta de cozinhar no chão, com lenha?

- Gosto não. Eu queria um fogão, mas ainda não consegui.

- E o rádio? As rádios pegam aqui na aldeia?

- Funciona normal. O que a gente gosta de ouvir mais é música black.

E sorri ao lado de dois de seus filhos, Márcia e Gilson, quando fala sobre suas preferências musicais. Iracema tem 24 anos. A minha idade. Mas nossos mundos são diferentes. Ela nasceu na aldeia, e ali cresceu entre as crianças. A mãe de Iracema, Alice, veio do Paraná quando se casou. Hoje está rodeada de mulheres e procura pulgas num filhote de cachorrinho preto e branco. Veste calça e blusa preta e uma touca de lã na cabeça, embora o sol brilhe no céu com poucas nuvens. Usa trança no cabelo preto, comprido e brilhante, que apesar da idade (Iracema acha que ela tem cerca de 75 anos), quase não tem fios brancos. Pés descalços. Os pulsos e os tornozelos cobertos de pulseiras de contas coloridas. Quase não fala português. Iracema é quem traduz para mim.

- Vim do Paraná com meu marido. A família dele era daqui. Quando cheguei, gostei e fiquei.

- Mas como era a aldeia quando a senhora chegou?

- Era bem diferente. Tinha mais natureza, mais mata. Gostava mais.

Iracema dá risada.

- Sabe que uma vez a CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) veio aqui oferecer pra construir casa de tijolo pra gente. Nós não quis, não. Prefere morar assim, em contato com a mata. Outras tribos perto daqui tem casa desse jeito, mas gosto mais é da casa de barro.

Alice fuma o cachimbo sagrado da tribo, o petyngua, cuja fumaça leva os pensamentos até Nhanderu, o criador de todas as coisas para os guaranis. Na cultura dessa etnia, começa-se a fumar ainda criança, e por isso muitas delas estão em volta de Alice quando ela está fumando. O petyngua desenvolve a religiosidade e, ao chegar a adolescência, se o índio tiver o dom, pode se tornar um pajé. Caso contrário, continua usando o cachimbo toda vez que deseja se sentir mais próximo de Nhanderu.

Ao me despedir da aldeia, encontro Karai usando um computador no escritório da tribo. Enquanto digita e mexe habilmente com o mouse, explica:

- O homem tem que tomar cuidado com o modo como trata a natureza. Precisa aprender com o índio para preservar. A modernidade e as novas tecnologias podem acabar com o mundo. Precisa mudar isso. Aqui queremos preservar o que quase acabou.

A aldeia consegue manter alguns resquícios da vida indígena como ela foi no passado. Artesanato, coral de crianças, escolas bilíngues que ensinam guarani. Mas ao mesmo tempo, está claro o quanto o índio sofreu e se modificou com a chegada do “homem branco”. Ali, sonhos de uma vida tranquila e reclusa se confundem com desejos de possuir eletrodomésticos e um carro que não os faça andar por cinco horas quando precisam sair da aldeia para comprar alimentos, já que nada cresce no solo dali.

- Quero que meus filhos cresçam aqui e fiquem aqui com o pai e a mãe até que a gente se vá. Não quero que saiam. Essa é a casa deles, a família deles cresceu aqui. Não tem nada lá fora para eles.

E em meio à geladeira, ao sonho de ter um fogão e às músicas black que tocam no rádio, Iracema tenta preservar um pouco do que restou da cultura guarani na aldeia Krukutu.


Do Amazonas para o ABCD

Foto: Divulgação

O ABCD não tem aldeias indígenas, e a mais próxima é a do Krukutu, que fica em São Paulo, próxima à divisa com São Bernardo. No entanto, a ong Opção Brasil, que cuida das causas dos índios na Região, estima que há 5 mil deles espalhados pelos sete municípios.

Nesta semana, São Bernardo realizou diversas palestras sobre o tema para marcar a V Semana Indígena da cidade. No evento realizado no Serviço de Memória e Acervo, encontro Bu’ú Tukano trajando calça bege, camisa azul clara e branca e sapato social caramelo. No pescoço, um colar de sementes pretas e vermelhas evidencia sua origem, assim como o rosto, reconhecível para qualquer um que saiba um tiquinho de nada sobre a cultura indígena: cor da pele avermelhada e cabelos compridos, lisos e negros emoldurando a face arredondada e característica. Engatamos uma conversa antes da palestra começar, na qual Bu’ú me conta um pouco sobre sua vida.

- Aos 15 anos deixei aldeia onde nasci para estudar. Meu pai preocupava muito com alcoolismo e quis que eu tivesse vida diferente.

- Esse problema era sério na aldeia onde você nasceu?

- Bebida é normal ter na aldeia. Toda semana tem bebida preparada pelas mulheres, a diferença que é feito de forma natural como faziam nossos antepassados. Eu dificilmente via índio caindo, era raro isso acontecer.

O nome Bu’ú quer dizer “tucunaré” e significa pessoa de vida curta e brava. O índio nasceu na aldeia Kayra, no Rio Tiquié, município de São Gabriel da Cachoeira, no Alto Rio Negro, Estado do Amazonas. Hoje Bu'ú não vive mais em aldeias. É um dos fundadores e assessor da Associação de Artes Indígenas Poterikharã Numiã. Também é reconhecido como o primeiro indígena Tukano artista plástico da Amazônia.

Bu'ú não gosta da palestra que assistimos, apresentada pelo professor e doutor do Departamento de Antropologia da Unicamp, John Manuel Monteiro. O estudioso expôs sua teoria de que o índio não foi apenas uma vítima silenciosa e silenciada da colonização, mas também participou dela e usufruiu dos novos conhecimentos que essa participação possibilitou.

O índio ao meu lado questiona até que ponto isso trouxe benefícios para eles.

- Os colonizadores chegaram colocando tudo que era nosso costume, principalmente nudismo, como coisa do diabo. Os povos indígenas praticamente foram obrigados a se converter a catolicismo. Tivemos grande perda nessa parte. Ao menos hoje na educação posso dizer que recuperamos, afinal apesar de ter pontos negativos, hoje maioria da minha região tem no mínimo ensino médio.

- Mas a cultura se perdeu um pouco, não é mesmo?

- Para vocês é inteligente quando se é mestre e doutor, e é natural ficar lendo e fazendo suas colocações e o público ver uma situação maravilhosa. A diferença do índio é que todo conhecimento é passado oralmente, e até hoje continua assim. O índio que nasceu e cresceu da aldeia sai como mestre ou doutor na minha visão, por que sai já com todo conhecimento dos antepassados, conhecendo xamanismo, rituais, grafismo, entre outros. Vocês tem que deixar o índio viver da maneira dele e reconhecer inteligência dele.

É isso que Bu'ú, Iracema, Alice e Karai querem.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Lace o seu!

Hoje quero pedir licença para postar um texto que não é Jornalismo Literário, mas que mesmo assim gostei muito de apurar e escrever. Originalmente a matéria foi produzida para a Financial Report, revista em que minha amiga Adriele, do bastante útil Pondo Ordem na Casa, trabalha como editora. Como vocês não são gerentes financeiros de nenhuma empresa (eu acho) e, portanto, não receberão a revista, coloco o texto aqui à disposição para quem se interessar pelo tema.

Ah, se eu poderia ter feito Jornalismo Literário na matéria? É, eu poderia, se tivesse entrado um mês antes na pós. Mas isso não significa que o texto tenha ficado ruim, até que ficou bonitinho, deem uma chance para ele, poxa!

Aí vai:


Lace o seu!


Homens e cavalos andam juntos há pelo menos 5,5 mil anos. Saiba o porquê.


Por Camila Galvez

O sineiro vinha, geralmente, em primeiro lugar na comitiva. Montava um cavalo enfeitado e carregava consigo o sino que chamava o restante da tropa para a cavalgada. Logo atrás vinham os cavalos, tão bonitos e enfeitados quanto o poder aquisitivo de seus donos pudesse pagar. Assim a cavalgada seguia por lugares cheios de perigos, mas também com paisagens que enchiam os olhos. Era durante a viagem que se demonstrava a destreza de quem conduzia o cavalo e a qualidade dos cuidados prestados aos animais ao longo do tempo.

Hoje em dia não é mais necessário se aventurar para garantir um passeio num dos animais mais conhecidos do mundo. Não é de hoje que homens e cavalos vivem em harmonia: estudo recente feito por arqueólogos do norte do Cazaquistão e divulgado pela revista Science demonstrou que os seres humanos domesticam cavalos para utilizá-los como meio de transporte há pelo menos 5,5 mil anos. Portanto, não é novidade que hoje milhares de pessoas vejam nos cavalos animais de estimação como nenhum outro.

É isso que os leva a gastar, em média, de R$ 50 mil a R$ 500 mil num bom espécime. Alguns, como o do campeão brasileiro de hipismo Rodrigo Pessoa, Baloubet du Rouet, simplesmente não tem preço, como o cavaleiro faz questão de afirmar. Tudo depende da ilusão que se cria em torno do desempenho do animal. Resultados em provas também contam, mas o que importa mais é a estima que o cavaleiro tem pelo bicho. É o que garante Carlos Marcílio Vieira, especialista em cavalos “desde que nasci” e proprietário do Haras Recanto dos Cavaleiros, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Vieira, inclusive, já conquistou diversos prêmios nas provas mais tradicionais de tambor e baliza realizadas no interior do Estado.

O custo para manter o companheiro das cavalgadas instalado no alojamento do haras é de R$ 500 por mês, o que inclui hospedagem, alimentação e cuidados básicos de higiene. “Se o dono passar um ano sem aparecer por aqui, pode ter a certeza de que, quando vier, vai encontrar seu cavalo em perfeitas condições”, garante. Além disso, é preciso trocar as ferraduras do animal, o que acrescenta cerca de R$ 60 às despesas do cliente. O tempo para troca depende do tipo de atividade exercida pelo cavalo.

No entanto, essa quantia não basta para quem quer mais do que simples passeios. Quem deseja participar de competições, como tambor e baliza, hipismo, corrida ou mesmo as de adestramento, na qual o animal é avaliado pelos truques que sabe fazer e pela beleza, precisa desembolsar muito mais. “Só o treinamento básico custa R$ 150, para que o cliente possa conduzir sem problemas. Se quiser adestramento ou treino para competições, fica mais caro, e o valor varia dependendo do tipo de competição da qual o animal participará”, afirma Vieira. Leva-se, em média, cerca de 3 meses para se domar um cavalo.

Saúde animal
Para ter bom desempenho, também é preciso ir além dos cuidados básicos. Suplementos alimentares são indicados para animais que competem, mas devem ser administrados apenas por um veterinário habilitado, pois cavalos de competição estão sujeitos a exames antidopping. Também é preciso ficar atento ao intestino do cavalo, pois a principal doença que pode causar a morte do animal são as cólicas.

O proprietário do Recanto dos Cavaleiros explica que é preciso escolher a raça adequada para o tipo de competição de que se quer participar. Não basta ter um cavalo forte, bonito e saudável para praticar saltos se ele simplesmente não consegue pular a barreira. As principais raças de cavalos que existem hoje no Brasil podem ser divididas pelas atividades para as quais são indicadas. O Mangalarga Paulista e o Marchador são para passeio. O Andaluz e o Lusitano, desfile e adestramento. O Anglo-Árabe, o BH (Brasileiro de Hipismo) e o Inglês, hipismo clássico (provas de salto). O Quarto de Milha, o Paint Horse e o Appaloosa são utilizados nas provas de tambor e baliza e também para exibições de rédeas e laço. O Inglês é bom nas corridas. Já o Árabe é um cavalo eclético, que pode tanto ser apenas de estimação quanto participar de competições de salto, por exemplo.

Há ainda uma nova raça sendo introduzida no país: o Haflinger, mistura do Pônei Alemão com os cavalos dos Alpes. Trata-se de um cavalo que sempre nasce com a mesma cor: baio de crina loura. São importados e tem as características parecidas com as do Quarto de Milha. Segundo Vieira, é uma raça nova que ainda está sendo observada pelo mercado brasileiro. “O Haflinger já demonstrou ser bom em provas de tambor e baliza, laço e para hipismo também, por causa do sangue do Pônei, que na Europa é utilizado para hipismo nas escolinhas para crianças. Serve também para engate, que são os cavalos que puxam charretes”, diz.

Bons cavalos geram bons potros. Essa é a máxima na hora de escolher um garanhão para cruzar. Cavalos bonitos, bem cuidados, com pelagem de qualidade, saem na frente na hora de vender os filhotes.

Rápido no gatilho
Cavalo e cavaleiro se agitam, e o coração de ambos bate quase no mesmo ritmo. Quando a portinhola do boxe se abre e o animal vê a pista diante de si, o que resta é correr. Na plateia, apostadores correm com o bicho até que o vencedor cruze a linha de chegada. Essa é a rotina do Jockey Club de São Paulo aos sábados e domingos, a partir das 14 horas, e às segundas-feiras, às 18h30, quando acontecem os páreos. A entrada para participar do espetáculo é gratuita. O visitante só gasta se quiser apostar, e o valor mínimo para a 'fezinha' é de R$ 2.

O diretor geral de finanças do Jockey, Mário Gimenes, destaca que o local tem capacidade para abrigar 2 mil animais, mas hoje vivem ali cerca de 1.600. Todos são da raça Puro-Sangue Inglês, que tem o melhor desempenho para as corridas e cujos filhotes podem chegar a ser vendidos por R$ 200 mil em leilões, segundo Gimenes. Além disso, há ainda 500 cavalos alojados nos centros de treinamentos, inclusive o do antigo Hipódromo de Campinas. “Esse é o contingente que forma os programas de corridas, normalmente formadas por 10 páreos cada”, explica.

O hipódromo tem duas pistas para as competições, uma de grama com 2.119 metros e outra de areia com 1.993 metros de volta fechada. É na de grama que acontece um dos momentos mais marcantes do ano: o GP (Grande Prêmio) São Paulo. Os cavalos que saem vencedores deste prêmio se tornam famosos e podem até mesmo ser exportados para participar de competições no exterior. Os valores distribuídos aos vencedores também impressionam: somente no ano passado as bolsas para os cinco primeiros lugares somaram R$ 500 mil. “O primeiro lugar ganhou R$ 300 mil sozinho. O dinheiro ajuda a manter o cavalo em nossas cocheiras, que funcionam no esquema de concessão, e custeia tratadores e veterinários”, afirma Gimenes.

Como se pode ver, criar cavalos não se trata apenas de um hobby, mas pode ser também um bom negócio. “Tudo começa como uma paixão, mas se o cavalo for realmente bom, pode-se ganhar dinheiro com ele”, ensina o diretor.

Quem cria assina embaixo. Então o que você está esperando para laçar o seu?

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Educação mais que especial 2

Gente! E não é que a matéria Educação mais que especial está repercutindo por aí? Ela foi publicada quase como a original no ABCD Maior e já é a mais lida da editoria de cidades do site. Para acessar, clique aqui.

E o fofo do Fabão fez uma página especial para mim. É ou não o melhor diagramador do mundo? Fabão, brigaduuuuu!



E vem mais por aí, pessoal. Aguardem e confiem.