quarta-feira, 30 de março de 2011

Ela ama os animais

Oi! Tem alguém aí?

Se vocês andam lendo alguma coisa desse blog, se ainda tem paciência para esperar pelas novidades, deixem um recadinho pra eu saber que passaram por aqui.

E hoje segue a história de uma pessoa muito especial que conheci nas minhas andanças como jornalista. Alguns podem dizer que ela é louca, mas o trabalho que ela faz é louvável. Espero que gostem e, se puderem, ajudem nesta causa.

Ela ama os animais

Ana Maria Matenaur cuida de mais de 150 cães e admite: prefere os bichos às pessoas


Por: Camila Galvez

Fotos: Fernando Nonato / DGABC

Logo que se chega ao Parque Riacho Grande, em São Bernardo, é possível avistar cães trotando pelas ruas de paralelepípedos. São de todas as cores: pretos, brancos, marrons, malhados, amarelos. Não tem lar definido e vagam pelas ruas em busca de abrigo e alimento. Cenário parecido com muitas outras ruas da região metropolitana de São Paulo.

Ao parar diante da casa de Ana Maria Matenaur, 57 anos, percebe-se logo que ali vive alguém que ama os animais: cerca de dez cachorros me recebem no portão. Dentro, mais de 70 esperavam para fazer festa, pular e latir sem parar.

“Vivo pelos animais”. É assim que Ana Maria define sua rotina, e não é exagero: há mais de 30 anos ela se dedica exclusivamente a cuidar de cachorros na sua própria casa, que transformou em verdadeiro canil. Recebe ajuda de amigos e parentes para manter o aluguel do imóvel, de R$ 600, e a ração e comida diária para os cachorros, além de remédios, castração e tratamentos veterinários.

Mas não são só os cães que ela tem em casa que recebem tratamento VIP. Por todo o bairro há cerca de 80 animais que são alimentados pelas mãos de Ana Maria. Caso de oito cães que foram abandonados no Parque Estoril e recebem comida da cuidadora duas vezes por dia.

O problema é que, desde a última segunda-feira, Ana Maria foi proibida de entrar dentro do parque para alimentar os animais. “Os veterinários alegam que vão dar uma solução para os bichos. Mas não podem deixar meus meninos passando fome. Isso me parte o coração”.

Memória
Os animais do Estoril têm nome, assim como os outros bichinhos de quem Ana Maria cuida. E não pense que a protetora tem dificuldades para se lembrar: ela aponta com precisão cada um deles: Caramelo, Dafne, Spike e Dalila. Os outros quatro (Scooby, Petita, Pretinha e Brady) não apareceram para comer. “Se eu não entro, como vão saber que estou aqui?”.

A briga com o veterinário do parque é séria. Ele garante que a forma como a cuidadora alimenta os animais é inadequada e, por isso, ela foi impedida de entrar na área verde. Ana Maria oferece a comida em folhas de jornais, pois alega não ter condições de adquirir vasilhames para cada animal. “A verdade é que eles acham que eu sou louca”. Ela dá de ombros. “Fazer o quê?”

Loucura
Ana Maria já fez loucura pelos bichos. Ela também vendeu tudo o que tinha dentro de casa para garantir o sustento dos cachorros. Ao invés de móveis, os cômodos são tomados por camas e cobertores para os animais, além de sacos e sacos de ração e arroz especial. Ela dorme em um sofá, num cantinho da casa, rodeada pelos cães. “Gosto mais de bicho do que de gente”, garantiu.

E não é a toa: em dezembro de 2009, a protetora registrou boletim de ocorrência após ser atacada por um adolescente e uma jovem grávida quando tentava resgatar Tonha, uma pit-bull que vagava pelas redondezas. Mais de um ano depois, Ana Maria ainda tem os dentes tortos por causa da surra e um dedo quebrado que nunca se curou.

Mesmo assim, não pretende desistir de seus cachorros. “Vou continuar cuidando deles até o fim. É minha missão”.

Se você tem o mesmo espírito, que tal ajudar a Ana Maria nesta empreitada? Ela recebe qualquer tipo de doação, desde itens para cães até móveis e roupas usadas, que ela revende. Interessados em patrocinar o projeto ou ajudar de alguma maneira, basta entrar em contato pelos telefones 4354-0973 ou 6853-5910.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Ensaio Pessoal

Ensaio Pessoal também é Jornalismo Literário. O ensaio abaixo foi minha primeira tentativa, produzido durante a maravilhosa aula do Edvaldo Pereira Lima.

Enquanto leio o livro O ano do pensamento mágico, de Joan Didion (recomendo), continuo buscando inspiração para lembrar se algum episódio da minha vida valeria um ensaio pessoal. Tenho alguns em mente, mas acho que nenhum forte o suficiente para ser um TCC dessa pós que, por si só, transformou a minha vida em todos os sentidos.

É, eu sumi. As coisas andam meio complicadas, ando meio sem tempo de mergulhar no Jornalismo Literário como gostaria. Por enquanto, faço um convite para que mergulhem um tiquinho dentro do oceano que sou eu. E descubram...

Por que escrevo?

Por: Camila Galvez

Uma folha quadriculada, de papel pautado, seis linhas preenchidas com espaço entre cada uma delas. Letra meio desgrenhada de criança, mas redonda. Lá estava o espantalho feliz, sorrindo pra mim. Desenho nunca foi o meu forte, mas pintava com gosto. O problema era que muitas vezes cansava de forçar o lápis no meio do caminho. A força maior sempre dediquei às letras pequenas no papel.

Tinha sete anos e um mundo de possibilidades se desenrolava diante de mim: a folha quadriculada e pautada era um passaporte que me levaria sempre para a mesma viagem, não importa o que eu escreva. A viagem era sempre para dentro de mim.

- Parabéns, Camila! Vou mostrar seu texto para as outras salas, está ótimo.

Mostrar minha primeira redação para as outras salas? Que erro! Me acostumei com a ideia de que gosto de ser lida, gosto de saber que agrado, que organizo as palavras como se elas pudessem ser domadas. Como seu fosse capaz de dominá-las. Essa é a impressão que quero passar quando escrevo: de que faço tudo de maneira consciente, medida, pensada. Que emprego técnicas, métodos, meios e fins estéticos para alcançar aquele resultado.

A impressão que meu texto passa, porém, é falsa como uma nota de R$ 3. As palavras sempre me devoraram. Escrever o que gosto é me deixar levar por elas, deixar que elas façam esse estranho balé mental todas as vezes antes de se deitarem sobre o papel que as coloco, imortalizadas ali até o próximo cesto de lixo, seja real ou virtual.

Tenho um exército de letras à disposição, e é com elas que satisfaço minha necessidade crescente e constante de escrever sempre mais e melhor. Mas é um exército sem general, e eu também sou um soldado. Caminho com as letras e preciso delas para ter força. Sem a dominação que elas mantêm sobre mim, quem seria eu?

Não seria, com certeza, a adolescente que a partir dos 12 anos ganhou os três concursos de redação da escola em que estudava. A sala de leitura que eu havia devorado, pequena demais para mim, era o palco para minhas leituras interpretativas. Rostos de expectativa me estimulavam a prosseguir com meu teatro até o fim, sempre trágico, meu exército cumprindo o papel não apenas de me dominar, mas de dominar os que me ouvem e leem.

Vivi com a ficção escrevendo em primeiro lugar para mim, e para os outros logo em seguida. Não faz sentido escrever para não ser lido. Escrever cansa, dói a mão, a cabeça, às vezes até as idéias doem. Se não houvesse o prêmio, o fato de saber que as palavras também dominam os outros como elas me dominam enquanto escrevo, nada faria sentido.

Se perdi horas e dias escrevendo baseada em histórias de outros – e dos outros - foi porque quis ser lida. É egoísmo, e não há porque ter vergonha de dizer. Encontrar reconhecimento no próximo. Alcançar a dominação pelas letras, esses sinais gráficos tão traiçoeiros, é o que todo escritor almeja alcançar no fim.

- Prima, hoje perguntaram na loja que fui fazer compras se eu era parente da Mia Galvez.
- Como assim? Sério?

- É! É por causa do meu sobrenome no cartão de crédito, a menina reconheceu e disse que adora suas histórias.

O exército ganhou mais uma vez, mas não sem deixar um rastro de morte pelo caminho. Eu caio junto com ele todas as vezes, mas levo outros mortos comigo também. A palavra domina. Escrever é um ato egoísta. E humano.