segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Bolsa aluguel: R$ 22 milhões por ano

Essa matéria me aperta o coração só de lembrar a situação dessa família. Ao mesmo tempo, me revolta saber que há pílula anticoncepcional e camisinha de graça no posto de saúde e a pessoa não toma uma atitude pra evitar a gravidez. É uma situação complicada que reflete o estado de atraso e abandono em que ainda se encontra esse país, não apenas a Região na qual vivo e trabalho.

Bolsa-aluguel: R$ 22 milhões por ano


São Bernardo, Santo André e Diadema possuem juntas 4.820 famílias que recebem o benefício


Por Camila Galvez

Foto: Luciano Vicioni

Primeiro veio William, que nasceu na cidade de Patos, perto de Campina Grande, na Paraíba. Wilma chegou a São Bernardo “no bucho”. Depois dela vieram Jéssica, Nayara, Nayane, Natália, Lucas, Lucicleide e uma menina que nasceu no dia 08/10, mas que ainda não tinha nome antes de vir ao mundo. Na casa de Ednalda Mendonça de Souza, 11 bocas comem com os R$ 600 que o marido, Eraldo José de Lima Santos, ganha em uma fábrica de móveis. A casa de três cômodos, alugada no núcleo habitacional Jesus de Nazareth por R$ 315, é a Prefeitura de São Bernardo quem paga, por meio da bolsa-aluguel.

Nalda, como é conhecida entre os vizinhos, tem 41 anos. Antes de fazer parte das 4.820 famílias que recebem o auxílio para custear a moradia na Região, vivia em um barraco também no Jesus de Nazareth, em área de risco.

- O esgoto corria debaixo do barraco. De tanta chuva, as telhas afundaram, molhava até a cama das crianças.

Os assistentes sociais da Prefeitura empurraram Nalda para fora em fevereiro, quando já não tinha mais jeito de ficar por lá.

- Ameaçaram levar meus filhos. Eu que não ia deixar isso acontecer, não.

O mais velho de Nalda tem 19 anos, mas não trabalha. Só não está na escola a menor, Lucicleide, que tem 1 ano e 4 meses. A mãe não conseguiu vaga na creche. Tentou, porque queria trabalhar, mas agora, com mais uma menina recém-nascida, os planos terão de ser adiados.
Nalda tem medo de depender sempre da bolsa-aluguel, auxílio pago pelas Prefeituras da Região e pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) para pessoas removidas de áreas de risco das cidades de São Bernardo, Santo André e Diadema. Juntas, as três Prefeituras gastam mais de R$ 22 milhões anuais com o pagamento do benefício. O proprietário da casa onde a família de Nalda vive quer o imóvel de volta.

- Mas assinamos contrato. Não saio daqui se não tiver outro lugar pra ir.

- E voltar pra Paraíba, Nalda? Não seria melhor?

- Pra Paraíba eu não volto. Aqui as pessoas ajudam a gente, lá eu teria que morar de favor com os outros.
E se não tiver jeito e o dono da casa quiser mesmo que a família saia, Nalda tem na ponta da língua o que vai fazer:

- Juntar um monte de madeira aí e erguer o barraco de novo, no mesmo lugar. Melhor isso que ir pra debaixo da ponte.

Em números - São Bernardo é a cidade que tem o maior número de famílias na mesma situação que a de Nalda: 3.071. Elas recebem até R$ 315 mensais para custear o valor do aluguel. O gasto mensal da Prefeitura é de R$ 1,2 milhão. De acordo com a consultora da Secretaria de Habitação e coordenadora da equipe de trabalho social, Márcia Gercino, cerca de mil famílias não estão inclusas em programas habitacionais da Prefeitura atualmente. “Elas deverão ser atendidas pelo Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, que também destina moradias para famílias que foram removidas de áreas de risco”, explicou Márcia.

Em Santo André há dois tipos de convênios que oferecem a bolsa-aluguel à população, um com a Prefeitura e outro com a CDHU, do governo do Estado. São 1.170 famílias atendidas, sendo 589 pela CDHU e 581 pela Prefeitura. O valor máximo do benefício é de até R$ 380 para cada família. No mês de setembro foram pagos benefícios no valor total de R$ 433,9 mil.

Santo André foi a primeira cidade do ABCD a assinar contrato com a União para o programa Minha Casa, Minha Vida, por meio do qual serão construídas inicialmente 352 moradias para famílias que recebam até três salários mínimos mensais. Somente nesta primeira fase do acordo serão beneficiados quase 1.500 andreenses, conforme a Prefeitura, que não esclareceu se esses andreenses são os que recebem atualmente a bolsa-aluguel.

A Prefeitura de Diadema atende 579 famílias, removidas de áreas em urbanização, como os núcleos habitacionais, de áreas de risco ou que sofreram danos causados por incêndio, desmoronamento de encostas, desabamento, enchentes, entre outras ocorrências.  Por mês, gasta-se R$ 200 mil com o pagamento do beneficio, que varia de R$ 300 a R$ 350 na cidade.

As famílias beneficiadas são definidas como demanda prioritária e estão incluídas em projetos habitacionais em andamento e outros a serem iniciados, com recursos do FNHIS (Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social) e do PAC, por exemplo.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Biblioteca para o futuro

12 de junho. Dia de Nossa Senhora Aparecida. Dia das Crianças. Dia de esperança num futuro melhor no alojamento José Fornari, em São Bernardo. A iniciativa pode parecer pequena, mas é enorme, gigante pra quem presencia a vida dessas pessoas nesses malditos alojamentos. Eu tenho uma raiva disso! Não sei qual seria a solução para o sério problema habitacional das cidades do ABC, mas eu sei que alojamento definitivamente não é.

Biblioteca para o futuro

Alojamento José Fornari, em São Bernardo, inaugura espaço com cerca de 600 livros, revistas e gibis, todos frutos de doação


Por Camila Galvez

Foto: Amanda Perobelli

O sonho de Moisés Bispo dos Santos se tornou realidade nesta terça-feira (12/10). Em pleno Dia das Crianças, o alojamento José Fornari, em São Bernardo, inaugurou com festa sua primeira biblioteca comunitária. Os mais de 600 livros, gibis e revistas foram arrecadados por meio de doação graças aos esforços de Santos, que não desistiu da ideia que teve há dois anos até colocá-la em prática. “O pessoal daqui não acreditava muito, mas fui pedindo aos poucos e, no boca-a-boca, consegui abrir”, comemora o tesoureiro da Associação Esperança Viver Melhor, que reúne os moradores do local.

Algumas famílias vivem no José Fornari há quase seis anos em condições precárias. As paredes do alojamento, forradas com cortiças, têm inúmeros buracos, e o chão de madeirite range quando um grande grupo de crianças invade o pequeno espaço improvisado para abrigar os livros. A nova biblioteca está enfeitada com bexigas coloridas, sopradas por Moisés com a ajuda de sua família.

Em meio às prateleiras, também frutos de doações, Lucas Henrique da Silva, 11 anos, encontra um livro de matemática. “É a matéria que mais gosto”, garante. Pergunto se ele pretende estudar ali, e ele responde: “Vai ser mais legal que em casa”.

Débora Bianca, de 12 anos, também está empolgada com a novidade. “Gosto de ler livros de ação. O último que li foi Um estudo em Vermelho, que conta a história de um detetive que desvenda um caso de assassinato”, relembra. A menina que veste casaco rosa, assim como suas bochechas coloridas pelo sol que faz do lado de fora do alojamento, tem na ponta da língua o que quer ser quando crescer: “Médica!”. E será que a biblioteca vai ajudar, Débora? “Tenho que estudar muito. Acho que vai ser um espaço bom pra isso”, arrisca.

Outra pequena moradora, Cristine Raiane, 11 anos, está interessada nos livros didáticos de ciências, sua matéria preferida. Assim como Débora, também já escolheu sua profissão: professora. “Tem que ter muita paciência e ser muito inteligente”, opina.

Futuro

Moisés tem certeza que a biblioteca pode ajudar as crianças da comunidade a ter um futuro melhor. “O próximo passo é fazer um mutirão para catalogar todos os livros”, afirma. E depois, Moisés? “Depois quero levar a iniciativa para outras comunidades carentes. Já comecei a conversar com o pessoal do núcleo Capelinha e, se continuar arrecadando bastante, vou levar uma biblioteca pra lá também”, prevê.

Por enquanto, a unidade do José Fornari funcionará cerca de duas horas por dia. Moisés está em busca de um jovem que possa ficar em período integral no local, voluntariamente. Ainda não encontrou.

A biblioteca continua aceitando doações. Livros, revistas, gibis, computador, estantes, mesas e “tudo o que não for fazer falta para quem doar” são aceitos. Para tanto, basta levar a doação até o alojamento, que fica na avenida José Fornari, 1650, em São Bernardo. Para falar com o Moisés, o telefone é 3424-1633.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Jardim Santo André

Quem disse que não é possível fazer jornalismo literário em fotos?

Quantas histórias você consegue contar vendo esse rostinho? Mais uma filha de mais uma Maria, essa do Jardim Santo André. Estive por lá hoje para fazer o registro fotográfico para a matéria da pós-graduação. Não sou especialista, mas me arrisco de vez em quando. Confesso que, de hoje, esse foi o melhor resultado, mas também a modelo ajudou, né?



A pequena Ana Giulia, filha da Claudinéa, também me deixou fazer uma fotinho dela, e até ensaiou um sorriso por debaixo da chupeta. A boneca que ela segura fez parte da minha infância, e agora protege as noites de sono dela.



Finalizo com as guerreiras do Jardim Santo André, Claudinéa, Débora da Missionários e Maria Regina. Pessoas que conheci e que, por mais simples que sejam, me ensinaram verdadeiras lições de vida. Obrigada, meninas!



segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Ao natural

O texto de hoje vai para as mamães, as que já são ou as que pretendem ser no futuro. Acompanhei a reunião do Grupo MaternaMente no início deste ano, num sábado muito gostoso. O texto, infelizmente, não entrou assim no jornal, mas a versão de Jornalismo Literário merece ser publicada. E quem ganha são vocês!

Ao natural


A história de três mulheres e sua relação com o parto


Por Camila Galvez

Foto: Antonio Ledes

Deborah Delage planejou ter sua primeira filha por meio do parto normal. Desde pequena convivia com a mãe, enfermeira obstetra, que sempre comentou sobre os benefícios de vir ao mundo por meios naturais. Deborah cresceu ouvindo o mesmo discurso, formou-se dentista, mas não se esqueceu dos ensinamentos da mãe. Enquanto estava grávida, planejou-se para que seu grande momento pudesse ser realizado da forma que sempre sonhou. Pequena e magra, Deborah não se importava com a questão física: tinha certeza de que daria conta. Seus olhos não negam: transmitem força e determinação, assim como seu sorriso. No entanto, seu sonho foi barrado por aquilo que ela chama de “sucessão de intervenções desnecessárias”. Deborah teve sua filha por meio de uma cesariana.

A situação se repete hoje de forma assustadora: 57% dos partos realizados em 2008 no Estado de São Paulo foram por meio de intervenções cirúrgicas, diz a Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados). No País, dados de 2009 do Ministério da Saúde apontam que as cesarianas correspondem a 35% dos partos na rede pública. A OMS (Organização Mundial da Saúde) indica taxa ideal em torno de 7% a 10%, não ultrapassando 15%. Na Holanda, a proporção é de 14%, nos Estados Unidos 26%, no México 34% e no Chile 40%. Os números servem para demonstrar que o significado de parto natural não é correto na sociedade de hoje. O que é considerado natural por médicos e mulheres do século XXI é marcar uma data, cortar pele, músculos e útero e arrancar o bebê à força. Os médicos preferem assim por conveniência. As mulheres, por medo.

Estudos demonstram que fetos nascidos entre 36 e 38 semanas, antes do período normal de gestação de 40 semanas, têm 120 vezes mais chances de desenvolver problemas respiratórios que necessitam de internação. Além disso, na cesárea há uma separação abrupta e precoce entre mãe e filho, num momento primordial para estabelecimento de vínculo. Para as mães, as cesáreas significam mais chances de sofrer hemorragia ou infecção no pós-parto e uma recuperação mais difícil.

Tentando mudar essa realidade, Deborah acabou por se voltar, além dos dentes, para outra parte do corpo, essa exclusivamente feminina: o útero. Passou a militar como educadora perinatal e criou o grupo MaternaMente, que se reúne todos os meses para discutir e incentivar o princípio do parto ativo.

- O objetivo principal é disseminar informações de qualidade e de modo acessível para que as mulheres e suas famílias possam compreender e viver a gestação e o parto como eventos naturais, que demandam atenção e apoio, e não intervenções desnecessárias.

Parece discurso pronto, mas Deborah o tem na ponta da língua. Por meio do grupo, ajuda mulheres a entenderem melhor as transformações do corpo e a se colocar como agentes ativas tanto durante a gravidez quanto no momento do parto. Em uma das reuniões do MaternaMente, realizada na cidade de São Bernardo do Campo, em São Paulo, no mês de março, reuniu na sala de sua casa Aline Elise Gerbelli Belini, 30 anos, dois filhos, e Erika Mattes Bittencourt, 28 anos, aguardando sua primeira filha.

Em casa

Aline conseguiu escapar das estatísticas ao ter o primeiro bebê por meio do parto normal, no hospital. Mas foi além quando o segundo filho veio ao mundo em casa, como auxílio de uma parteira. A experiência Aline conta com o rosto iluminado, enquanto tenta acalmar o irrequieto Pedro, de três meses, sentado em seu colo. O pequeno morde os dedos da mãe, sorri e chora sem aviso, reclamando atenção. A mãe se encanta com cada movimento, com cada gesto, com o vínculo que criou com a criança que nasceu por meios naturais, deixando marcado na lembrança e na pele um momento inesquecível. Exatamente por não ter sido tão simples e fácil é que Aline se recorda com carinho do momento em que ouviu pela primeira vez o choro do filho.

- Queria que ele nascesse na banheira, mas não me senti confortável no momento do parto e optei em deixar a água e ir para a cama, onde me senti mais segura.

- E como foi quando ele finalmente nasceu?

- O Pedro estava com o cordão enrolado no pescoço, mas a parteira que escolhi estava preparada e soube lidar com isso, que é até comum nos partos. Se você tem ao lado uma pessoa experiente, que te tranquiliza, tudo é mais bonito. Aproveitei cada segundo e recomendo.

Para não assustar amigos e parentes, Aline preferiu não comentar com alguns deles sobre a escolha. A mãe e o pai ficaram sabendo nos últimos momentos, quando já não havia como voltar atrás.

- Depois que o Pedro nasceu, conto para todo o mundo que fiz o parto em casa. As pessoas ficam admiradas e elogiam, mas tenho certeza que se tivesse contado antes, as mesmas pessoas poderiam ficar assustadas.

Erika acompanha a história sem deixar de acariciar a barriga de oito meses um momento sequer. Ali dentro cresce Alicia, sua primeira filha, que traz à futura mamãe um misto de ansiedade e alegria evidente em seu olhar. Apesar de demonstrar calma e ter a fala mansa, Erika deixa transparecer nos gestos que é uma mulher determinada.

- Quero fazer parto normal também, mas em hospital. Visitei um deles em São Bernardo, mas não me senti à vontade. O funcionário que me apresentou o complexo enfatizou demais a infraestrutura, e de menos a questão humana. Chegou a me dizer que o médico decide, a partir do oitavo mês, se a criança nascerá de parto normal ou de cesariana.

As mulheres da sala ficam indignadas. Deborah acredita que esse comportamento se tornou tão comum porque a cesárea é mais conveniente para o médico, e não por questões de saúde.

- Muitos médicos não querem esperar o bebê decidir a hora certa de vir ao mundo. Para eles é mais conveniente fazer a cirurgia. Quem vai lidar com isso depois é a mulher, que sofrerá as consequências da anestesia e do pós-operatório.

Deborah, então, mune-se de seu kit: uma simulação do aparelho reprodutivo da mulher feita de pano e um cartaz que contém informações sobre partos. Explica assim à mamãe de primeira viagem que o procedimento cirúrgico só é indicado, durante o pré-natal, em casos de placenta previa, herpes genital com lesão ativa na hora do parto, bebê transverso (atravessado no útero) e no caso de mulheres com algum tipo de cardiopatia. Durante o parto, também é possível identificar a tempo casos em que se faz necessária a intervenção cirúrgica, tais como prolapso de cordão (quando o cordão umbilical sai antes da cabeça do bebê), descolamento prematuro da placenta, eclâmpsia (perda de proteína que só pode ser revertida ao cessar a gravidez) e ruptura de vaso uterino de grande calibre.

No hospital

No fim de abril, Erika entrou para a lista das mulheres que escaparam de procedimentos cirúrgicos e viveram o momento do parto intensamente. Alicia veio ao mundo no hospital no dia 22 de abril, de parto normal, com médico plantonista. Sonho realizado.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Um dia de fábrica

Nossa, essa semana está tão corrida! Aliás, as duas últimas semanas estão assim, mas não reclamo não, gosto de dias agitados e noites passadas em boa companhia.

Essa matéria que deixo hoje para vocês foi escrita na última semana, e foi quase como uma folga depois de escrever tanto sobre inovação para a revista InovABCD. Se bem que os textos que fiz sobre o metrô de São Paulo e a Fábrica de Pães da Avape foram de JL, e depois vou postar para vocês.

Por enquanto, fiquem com o texto do Projeto Diadema Mais Educação, proposta de ensino integral da cidade de Diadema, que conta com o apoio do Governo Federal, embora o prefeito Mário Reali tenha me dito certa vez que esse apoio ainda precisa "crescer um tiquinho".

Um dia de fábrica


Legas Group é primeira empresa a participar do projeto Diadema Mais Educação, parceria da Prefeitura com a União


Por Camila Galvez

Foto: Antonio Ledes

O dia de 42 crianças de seis e sete anos da Escola Municipal Mário Santalúcia, em Diadema, começou com uma corrida de obstáculos.

- Fiquem de mãos dadas, sem soltar a mão do coleguinha ao lado.

O aviso é da professora de artes da escola, Paula Aceituano, uma das sete educadoras que acompanham o grupo. Os alunos fazem parte do projeto Diadema Mais Educação, que amplia o tempo de permanência da criança na escola de quatro para no mínimo sete horas, durante as quais os alunos participam de atividades em centros culturais, parques, complexos esportivos e outros espaços públicos e comunitários, criando um “território educativo” que abrange todas as regiões do município. O projeto tem investimento de R$ 2,2 milhões, sendo R$ 1,2 milhão da Prefeitura e R$ 1 milhão do governo federal.

A atividade desta quinta-feira (23/09) é uma novidade do programa: os estudantes do turno da tarde aproveitaram a manhã para visitar a empresa Legas Group, mas antes tiveram de vencer, de mãos dadas, buracos, entulho e lixo, calçadas estreitas demais, postes e árvores que bloqueavam a passagem e dois cruzamentos, sempre acompanhados dos professores. Ao chegar à fábrica, cerca de 10 minutos depois, Paula lança um novo aviso ao grupo:
- Lembrem-se de que não devemos tocar em nada.

- Não pode atrapalhar quem está trabalhando, né? – diz um dos alunos.

- Isso mesmo, não podemos atrapalhar, só observar.

Na Legas Group os alunos são recebidos pelo empresário Nelson Miyazawa, pioneiro em participar do projeto na cidade.

- Bom dia, pessoal!

- Bom dia!

- O que nós vamos conhecer aqui hoje?

- A fábrica!

As crianças respondem em coro, como se tivessem ensaiado previamente. Para Nelson, trata-se de uma satisfação pessoal, visível no sorriso e na paciência oriental. “Com a iniciativa, buscamos dar o exemplo a outros empresários para que também abram as portas de suas empresas para a comunidade”, afirma. A Legas Group desenvolve há 10 anos atividades de esporte e lazer com a população do Bairro Serraria, onde está instalada, e também faz parte do projeto Leitura nas Fábricas, da Prefeitura de Diadema.

O grupo de alunos segue para o passeio pela fábrica, que produz displays para montagem de supermercados e lojas. A estudante Mayara Vech, 8 anos, está empolgada. “Faço taekwondo aqui, mas nunca tinha visto a produção. É muito legal”, garante. O coleguinha Samuel Lima Pontes, 6 anos, também vive a primeira experiência em uma fábrica. Porém, ao ser questionado se quer trabalhar ali quando crescer, ele responde: “Quando eu for grande, quero namorar”. Garoto decidido.

Estímulo

A visita não se limita só a conhecer a produção, mas os alunos também utilizam o espaço da fábrica para desenvolver atividades de leitura e recreação. A articuladora do programa na Mário Santalúcia, Renata Saggioro, explica que a atividade renderá frutos na sala de aula. “Desenvolvermos conteúdos ligados a artes, meio ambiente, matemática e alfabetização, entre outros. A proposta é complementar o aprendizado da sala de aula”, destaca.
A professora Paula é uma das que desenvolverão atividade na aula de artes com os alunos. “Vamos discutir o que eles viram aqui e fazer um desenho ou colagem relacionado ao passeio”, comenta.

O funcionário Antonio Gomes, 49 anos, também gostou da experiência de receber a criançada no ambiente de trabalho. “É uma forma de incentivar os pequenos a escolher uma profissão no futuro”, opina.

Parcerias

A secretária de Educação de Diadema, Roberta de Oliveira, afirmou que a cidade pretende buscar parcerias com outras empresas para ampliar a visitação. “Agora que o projeto chegou à Zona Oeste de Diadema, que tem mais fábricas, vamos tentar ampliar as parcerias para atender mais alunos”, disse. Atualmente, 11 escolas do município participam do projeto Diadema Mais Educação.

Sobre a corrida de obstáculos do início da aventura dos pequenos alunos da Mário Santalúcia, Roberta destaca que a Prefeitura tem promovido campanhas educativas a fim de conscientizar os comerciantes e a população para manter as calçadas limpas e desobstruídas. “A comunidade tem sido receptiva quando vê as crianças nas ruas”, garante a secretária.