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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Minha casa, minha prisão

Olá, pessoal, tudo bem? Estou meio sumida porque concentrei minhas forças na matéria que estou fazendo para a pós. É uma grande reportagem sobre os alojamentos do Jardim Santo André, um bairro de Santo André que conheço desde o início deste ano, quando um senhor morreu num deslizamento de terra em área de risco. Quando finalizar, vou publicá-la por aqui para quem se interessar em ler.

Enquanto isso, fiquem com a história de Edson, cadeirante que perdeu a cadeira de rodas - e o direito de ir e vir - por causa da rua esburacada na qual ele vive, no Parque América, em Rio Grande da Serra. Espero que gosstem e, se lerem, deixem ao menos um recadinho dizendo que passaram por aqui pra que eu não me sinta tão mal ao ver esse "0 comentários" aí embaixo... *momento drama*


Minha casa, minha prisão

Edson Luiz dos Santos perdeu a cadeira de rodas e a liberdade por causa de uma rua esburacada no Parque América, em Rio Grande da Serra


Por Camila Galvez


Foto: Luciano Vicioni



A prisão de Edson Luiz dos Santos poderia ter começado há nove anos num mergulho na represa Rebizzi que lhe tirou o movimento dos braços e das pernas. Edson ficou tetraplégico e engrossou a lista dos mais de 25 milhões de brasileiros que possuem algum tipo de deficiência física, conforme o último Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

- Quebrei o pescoço. Tive de desviar de uma criança. Não tinha outro jeito.

A prisão de Edson, no entanto, começou há cerca de três meses, quando a cadeira de rodas motorizada que lhe faz as vezes de pernas quebrou. O motivo: o estado da rua Jundiaí, no Parque América, em Rio Grande da Serra. A via de terra, com esgoto correndo a céu aberto, é tão cheia de buracos que até o carro no qual chegamos teve dificuldades para subir a pequena ladeira. Imagine então como é se movimentar ali com uma cadeira de rodas. Edson precisou da ajuda de três pessoas para fazer um trajeto curto pela vizinhança, enquanto esbravejava.

- Enrosca nas pedras e nos buracos. Quando caí, me ralei inteiro. Não dá para continuar assim.

O orçamento da cadeira de rodas feito pela Prefeitura da cidade ficou em R$ 8,5 mil, de acordo com o cadeirante. Ali, pedem para que Edson tenha paciência, pois o processo está na área jurídica, em análise. Paciência, no entanto, é tudo o que ele não tem.

Há duas semanas, um amigo de Edson o levou até a Prefeitura. Edson desceu da cadeira e deitou no calçamento da entrada, com a intenção de atrapalhar os que por ali passavam. Foi a forma que encontrou de protestar.

- Se demorarem demais para resolver o problema, vou fazer de novo.

O homem de barba e cabelos encaracolados castanhos tem um semblante nervoso. Pouco sorri, e os olhos, também castanhos, parecem tristes por detrás das lentes amareladas dos óculos. Ele sente raiva.

Acidente - Adenizia Aparecida Matias Rodrigues foi chamada ao hospital às pressas naquele domingo cuja data tem na ponta da língua: 28 de outubro de 2001. O telefone tocou e disseram que o marido tinha sofrido um acidente, mas estava consciente. Tranquilizada, a ruiva de olhos quase verdes chegou ao hospital para encontrar Edson com um colar cervical e um diagnóstico para o resto da vida.

- Tivemos de nos adaptar, eu e meu filho, que na época tinha seis anos. Conseguimos erguer nossa casa, fazer as coisas aos poucos. Mas agora, com esse problema, o Edson está me deixando quase maluca.

Edson fica nervoso de ficar preso na casa, construída nos fundos da residência da mãe de Adenizia. Sua distração é um computador com internet, que o ajuda a enviar e-mails com fotos do estado da rua para todos os lugares que consegue imaginar. Edson garante que só vai parar de lutar quando conseguir o que quer. E não é apenas uma cadeira de rodas nova.

- Só calo a boca quando tiver a cadeira, o esgoto e o asfalto.

A tríade devolveria a Edson apenas o direito comum a todo cidadão, previsto na Constituição Brasileira: ir e vir.

Bairro é motivo de disputa entre Rio Grande e Santo André

O bairro onde o cadeirante Edson Luiz dos Santos vive está no meio de uma disputa judicial. O Parque América, localizado em área de mananciais, foi loteado por uma imobiliária de Rio Grande da Serra na década de 1980, mas parte do território, que abriga hoje cerca de 62 famílias, pertence à cidade de Santo André.

A rua Jundiaí é apenas uma das várias vias abandonadas pelo poder público. Ali o que se vê em dias secos como os de agora é muita poeira, buracos e esgoto correndo a céu aberto. Quando chove, as ruas se transformam em lamaçal. A disputa judicial causou um embargo que impede que sejam realizadas as melhorias prometidas quando os terrenos loteados foram vendidos aos moradores.

A Prefeitura de Rio Grande da Serra afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que oito ruas do bairro serão pavimentadas e 16 vão receber manutenção, incluindo a rua Jundiaí. Os trabalhos já começaram, mas não há data prevista para conclusão. Além da cadeira, Edson vai ter de aguardar também a manutenção.