quinta-feira, 8 de abril de 2010

Lace o seu!

Hoje quero pedir licença para postar um texto que não é Jornalismo Literário, mas que mesmo assim gostei muito de apurar e escrever. Originalmente a matéria foi produzida para a Financial Report, revista em que minha amiga Adriele, do bastante útil Pondo Ordem na Casa, trabalha como editora. Como vocês não são gerentes financeiros de nenhuma empresa (eu acho) e, portanto, não receberão a revista, coloco o texto aqui à disposição para quem se interessar pelo tema.

Ah, se eu poderia ter feito Jornalismo Literário na matéria? É, eu poderia, se tivesse entrado um mês antes na pós. Mas isso não significa que o texto tenha ficado ruim, até que ficou bonitinho, deem uma chance para ele, poxa!

Aí vai:


Lace o seu!


Homens e cavalos andam juntos há pelo menos 5,5 mil anos. Saiba o porquê.


Por Camila Galvez

O sineiro vinha, geralmente, em primeiro lugar na comitiva. Montava um cavalo enfeitado e carregava consigo o sino que chamava o restante da tropa para a cavalgada. Logo atrás vinham os cavalos, tão bonitos e enfeitados quanto o poder aquisitivo de seus donos pudesse pagar. Assim a cavalgada seguia por lugares cheios de perigos, mas também com paisagens que enchiam os olhos. Era durante a viagem que se demonstrava a destreza de quem conduzia o cavalo e a qualidade dos cuidados prestados aos animais ao longo do tempo.

Hoje em dia não é mais necessário se aventurar para garantir um passeio num dos animais mais conhecidos do mundo. Não é de hoje que homens e cavalos vivem em harmonia: estudo recente feito por arqueólogos do norte do Cazaquistão e divulgado pela revista Science demonstrou que os seres humanos domesticam cavalos para utilizá-los como meio de transporte há pelo menos 5,5 mil anos. Portanto, não é novidade que hoje milhares de pessoas vejam nos cavalos animais de estimação como nenhum outro.

É isso que os leva a gastar, em média, de R$ 50 mil a R$ 500 mil num bom espécime. Alguns, como o do campeão brasileiro de hipismo Rodrigo Pessoa, Baloubet du Rouet, simplesmente não tem preço, como o cavaleiro faz questão de afirmar. Tudo depende da ilusão que se cria em torno do desempenho do animal. Resultados em provas também contam, mas o que importa mais é a estima que o cavaleiro tem pelo bicho. É o que garante Carlos Marcílio Vieira, especialista em cavalos “desde que nasci” e proprietário do Haras Recanto dos Cavaleiros, em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Vieira, inclusive, já conquistou diversos prêmios nas provas mais tradicionais de tambor e baliza realizadas no interior do Estado.

O custo para manter o companheiro das cavalgadas instalado no alojamento do haras é de R$ 500 por mês, o que inclui hospedagem, alimentação e cuidados básicos de higiene. “Se o dono passar um ano sem aparecer por aqui, pode ter a certeza de que, quando vier, vai encontrar seu cavalo em perfeitas condições”, garante. Além disso, é preciso trocar as ferraduras do animal, o que acrescenta cerca de R$ 60 às despesas do cliente. O tempo para troca depende do tipo de atividade exercida pelo cavalo.

No entanto, essa quantia não basta para quem quer mais do que simples passeios. Quem deseja participar de competições, como tambor e baliza, hipismo, corrida ou mesmo as de adestramento, na qual o animal é avaliado pelos truques que sabe fazer e pela beleza, precisa desembolsar muito mais. “Só o treinamento básico custa R$ 150, para que o cliente possa conduzir sem problemas. Se quiser adestramento ou treino para competições, fica mais caro, e o valor varia dependendo do tipo de competição da qual o animal participará”, afirma Vieira. Leva-se, em média, cerca de 3 meses para se domar um cavalo.

Saúde animal
Para ter bom desempenho, também é preciso ir além dos cuidados básicos. Suplementos alimentares são indicados para animais que competem, mas devem ser administrados apenas por um veterinário habilitado, pois cavalos de competição estão sujeitos a exames antidopping. Também é preciso ficar atento ao intestino do cavalo, pois a principal doença que pode causar a morte do animal são as cólicas.

O proprietário do Recanto dos Cavaleiros explica que é preciso escolher a raça adequada para o tipo de competição de que se quer participar. Não basta ter um cavalo forte, bonito e saudável para praticar saltos se ele simplesmente não consegue pular a barreira. As principais raças de cavalos que existem hoje no Brasil podem ser divididas pelas atividades para as quais são indicadas. O Mangalarga Paulista e o Marchador são para passeio. O Andaluz e o Lusitano, desfile e adestramento. O Anglo-Árabe, o BH (Brasileiro de Hipismo) e o Inglês, hipismo clássico (provas de salto). O Quarto de Milha, o Paint Horse e o Appaloosa são utilizados nas provas de tambor e baliza e também para exibições de rédeas e laço. O Inglês é bom nas corridas. Já o Árabe é um cavalo eclético, que pode tanto ser apenas de estimação quanto participar de competições de salto, por exemplo.

Há ainda uma nova raça sendo introduzida no país: o Haflinger, mistura do Pônei Alemão com os cavalos dos Alpes. Trata-se de um cavalo que sempre nasce com a mesma cor: baio de crina loura. São importados e tem as características parecidas com as do Quarto de Milha. Segundo Vieira, é uma raça nova que ainda está sendo observada pelo mercado brasileiro. “O Haflinger já demonstrou ser bom em provas de tambor e baliza, laço e para hipismo também, por causa do sangue do Pônei, que na Europa é utilizado para hipismo nas escolinhas para crianças. Serve também para engate, que são os cavalos que puxam charretes”, diz.

Bons cavalos geram bons potros. Essa é a máxima na hora de escolher um garanhão para cruzar. Cavalos bonitos, bem cuidados, com pelagem de qualidade, saem na frente na hora de vender os filhotes.

Rápido no gatilho
Cavalo e cavaleiro se agitam, e o coração de ambos bate quase no mesmo ritmo. Quando a portinhola do boxe se abre e o animal vê a pista diante de si, o que resta é correr. Na plateia, apostadores correm com o bicho até que o vencedor cruze a linha de chegada. Essa é a rotina do Jockey Club de São Paulo aos sábados e domingos, a partir das 14 horas, e às segundas-feiras, às 18h30, quando acontecem os páreos. A entrada para participar do espetáculo é gratuita. O visitante só gasta se quiser apostar, e o valor mínimo para a 'fezinha' é de R$ 2.

O diretor geral de finanças do Jockey, Mário Gimenes, destaca que o local tem capacidade para abrigar 2 mil animais, mas hoje vivem ali cerca de 1.600. Todos são da raça Puro-Sangue Inglês, que tem o melhor desempenho para as corridas e cujos filhotes podem chegar a ser vendidos por R$ 200 mil em leilões, segundo Gimenes. Além disso, há ainda 500 cavalos alojados nos centros de treinamentos, inclusive o do antigo Hipódromo de Campinas. “Esse é o contingente que forma os programas de corridas, normalmente formadas por 10 páreos cada”, explica.

O hipódromo tem duas pistas para as competições, uma de grama com 2.119 metros e outra de areia com 1.993 metros de volta fechada. É na de grama que acontece um dos momentos mais marcantes do ano: o GP (Grande Prêmio) São Paulo. Os cavalos que saem vencedores deste prêmio se tornam famosos e podem até mesmo ser exportados para participar de competições no exterior. Os valores distribuídos aos vencedores também impressionam: somente no ano passado as bolsas para os cinco primeiros lugares somaram R$ 500 mil. “O primeiro lugar ganhou R$ 300 mil sozinho. O dinheiro ajuda a manter o cavalo em nossas cocheiras, que funcionam no esquema de concessão, e custeia tratadores e veterinários”, afirma Gimenes.

Como se pode ver, criar cavalos não se trata apenas de um hobby, mas pode ser também um bom negócio. “Tudo começa como uma paixão, mas se o cavalo for realmente bom, pode-se ganhar dinheiro com ele”, ensina o diretor.

Quem cria assina embaixo. Então o que você está esperando para laçar o seu?

2 comentários:

  1. - Corsario negro; vento de maio, pano branco...

    Já tenho vários nomes... Quero um cavalo.

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  2. tenho um mangalarga paulista e quero correr tambor com ele oq devo fazer para treinalo?

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